Caso “mãe e filhos mortos”: após um ano preso, cúmplice na ocultação dos corpos é solto

Foto: Jornal Razão

Após pouco mais de um ano preso, Gelvani Hasckel, condenado por ajudar o próprio irmão a ocultar os corpos da ex-cunhada e dos dois sobrinhos assassinados em Presidente Getúlio (SC), deixou a prisão e passou a cumprir pena em regime domiciliar monitorado. A mudança foi autorizada após decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina que reduziu a pena do réu e reconheceu atenuantes no caso.

O caso teve início em 28 de agosto de 2024, quando Edinéia Telles, de 34 anos, e os filhos do casal, de 2 e 4 anos, foram brutalmente assassinados a tiros por Gilson Hasckel, ex-marido de Edinéia. Os crimes ocorreram dentro da casa da família, mesmo após a separação, em Presidente Getúlio, no Alto Vale do Itajaí.

Logo após cometer o triplo homicídio, Gilson procurou ajuda do irmão, Gelvani, para ocultar os vestígios do crime. Os dois esconderam o revólver e a espingarda utilizados, colocaram os corpos das vítimas no porta-malas do carro da mulher e seguiram até uma área de mata na cidade vizinha de Ibirama.

O veículo foi incendiado com os corpos dentro e arremessado em uma ribanceira. O carro carbonizado foi localizado no dia seguinte, dando início a uma investigação que mobilizou forças policiais de dois estados.

Fuga e prisão do autor

Após ocultar os corpos, Gilson fugiu para o Paraná utilizando o carro de Gelvani. Ele foi preso na cidade de Guaraniaçu, após trabalho conjunto das polícias de Santa Catarina e do Paraná. Durante a abordagem, confessou ter assassinado a ex-mulher e os filhos pequenos.

Levado ao sistema prisional de segurança máxima em São Cristóvão do Sul, Gilson foi encontrado morto na cela em novembro de 2024, em circunstâncias não detalhadas pelas autoridades.

Condenação e revisão da pena do irmão

Gelvani Hasckel foi inicialmente condenado a 6 anos, 8 meses e 10 dias de reclusão em regime fechado, além de 1 ano de detenção e 63 dias-multa. Ele respondia por cinco crimes, incluindo ocultação de cadáver, posse irregular de arma de fogo e omissão de comunicação às autoridades.

A defesa, composta pelos advogados Letícia Bilk, Camila Knaul e Rodolfo Warmling, recorreu da decisão e obteve uma redução significativa de pena. O TJSC entendeu que Gelvani não participou do assassinato, limitando-se a atos posteriores. Ele foi absolvido da acusação de omissão, teve reconhecida a atenuante de confissão e o valor da indenização foi reduzido de R$ 500 mil para R$ 30 mil.

Com a nova sentença, a pena passou a ser de 4 anos, 5 meses e 12 dias de reclusão, além de 1 ano, 1 mês e 19 dias de detenção, em regime semiaberto.

Com a redução da pena e o tempo já cumprido desde setembro de 2024, a defesa pediu progressão ao regime semiaberto. Gelvani foi transferido para o Presídio Regional de Rio do Sul, onde permaneceu por curto período até o novo pedido: o regime semiaberto harmonizado, que permite cumprir a pena em casa com tornozeleira eletrônica.

A solicitação foi fundamentada em dois dispositivos:

• Súmula Vinculante nº 56 do STF, que impede prejuízo ao apenado quando não há vagas no sistema prisional.

• Portaria nº 2/2023 da Vara de Execuções Penais de Rio do Sul, que autoriza prisão domiciliar monitorada a detentos do semiaberto com bom comportamento.

Além disso, o presídio de Rio do Sul estava superlotado, com cerca de 440 detentos para uma capacidade oficial de 278. Esse fator pesou na decisão do juízo, que autorizou a saída do condenado sob monitoramento eletrônico.

Defesa fala em cumprimento da lei

A advogada Letícia Bilk afirmou que todas as medidas foram tomadas com base no devido processo legal, respeitando os direitos do condenado e garantindo o correto cumprimento da pena revisada. A equipe jurídica segue acompanhando o caso.

Repercussão e indignação

A libertação de Gelvani Hasckel em prisão domiciliar reacende a dor de familiares e gera debate sobre os critérios da Justiça para progressão de regime em casos de grande comoção.

Edinéia e os filhos foram mortos de forma brutal, com os corpos carbonizados, o que tornou o crime um dos mais impactantes registrados em Santa Catarina em 2024. Mesmo sem ter puxado o gatilho, a participação de Gelvani na ocultação e destruição de provas segue vista por muitos como parte essencial da tentativa de apagar o crime.

Fonte: Jornal Razão